O governo lançou um concurso nacional para a nova moeda metálica do Real. Na primeira etapa os candidatos deveriam mandar um projeto para a moeda de 1 real. 20 finalistas foram selecionados para desenhar, então, uma proposta para toda a família de moedas. Eu fui uma das finalistas, ao lado de importantes escritórios de Design do Brasil. Visitamos a casa da moeda no Rio de Janeiro e eu conheci todo o processo de fabricação das moedas. Minha proposta final dividia as moedas em três: 2 moedas com inspiração indígena, 2 baseadas na cultura africana e 2 na cultura visual portuguesa.
Projeto Gráfico para a nova moeda metálica do Real
Projeto finalista do concurso nacional instituído pelo Banco Central do Brasil em 1997
Memorial descritivo
Tendo em vista as especificidades culturais brasileiras, este projeto propõe reunir na moeda, sob o mesmo tema – animais brasileiros - , as três formas expressivas: negra, indígena e portuguesa. Isto significa dizer que o caráter nacional se manifesta não só ao nível do conteúdo como também ao nível da forma.
Esta é uma atitude imprescindível se o que queremos é produzir um Design brasileiro matuto-caipira-caboclo-campeiro-sertanejo-citadino como quereria Mário de Andrade.
E o que caracteriza o estilo brasileiro?
O brasileiro tem uma forma de apreender a natureza altamente intuitiva, mais interessado nas características místicas dos bichos do que na sua exata anatomia.
O desenho brasileiro, com suas formas simples, ora geométricas, ora orgânicas e com suas proporções nada renascentistas alcança um grau de sofisticação e força expressiva que o coloca entre os mais belos do mundo.
Porém, é preciso estar atento ao fato de que este Design brasileiro não é único, e nem poderia ser, neste país de dimensões continentais. Mas ele surge necessariamente do encontro dos três ingredientes variando, é claro, as quantidades e os temperos regionais.
Isto aparece neste projeto através da separação das moedas em três grupos:
- O português está representado nas moedas de 0,01 e 0,25 centavos onde figuram, respectivamente, o Joãopinto (um pássaro azul, amarelo e branco) e o tatu canastra (maior tatu do mundo). No verso temos grafismos típicos portugueses baseados nas rendas e bordados e nas pinturas de cerâmicas e azulejos.
Pode-se dizer que o estilo dos desenhos populares portugueses é “de uma ingenuidade tocante, mas que não deve provocar críticas, ,pois o que nele sobreleva é a pura emoção do ser de mentalidade primária, mas sensível a uma concepção de beleza”. São formas simples preenchidas minuciosamente com texturas por um artesão dado a conversas interiores e um quê de melancolia.
- Os povos nativos estão representados nas moedas de 0,05 e 0,50 centavos onde figuram, respectivamente, a anta e o tamanduá. No verso, temos grafismos tirados de pinturas corporais e decorações de utensílios.
No estilo indígena, a percepção fundamental é o da geometrização infinita do espaço e a importância da relação figura-fundo.
“A expressão artística não se limita aos objetos sagrados que são venerados, mas também está presente em objetos da vida cotidiana, como uma advertência constante da impregnação do mundo espiritual na vida humana”.
- O negro está representado nas moedas de 0,10 e 1 Real onde figuram, respectivamente, o mico-leão dourado e o logo-guará. No verso temos grafismos que aparecem com freqüência nos utensílios, esculturas e tecidos africanos e que forma trazidos para cá nos navios negreiros.
Pelos grafismos podemos ver bem o gosto africano pela representação da tridimensionalidade dada pelo entrelaçamento de linhas. Nas estilizações dos animais aparece um estilo que aposta na força das linhas simples e das formas quase geométricas preenchidas por textura pouco complexas.
“Ser brasileiro, mesmo alvo e de cabelos loiros, é trazer na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro”, é ter uma tendência básica ao sincretismo cultural e à postura ecológica, porque aqui, antes disto ser moda, já era nossa história.
Projeto finalista do concurso nacional instituído pelo Banco Central do Brasil em 1997
Memorial descritivo
Tendo em vista as especificidades culturais brasileiras, este projeto propõe reunir na moeda, sob o mesmo tema – animais brasileiros - , as três formas expressivas: negra, indígena e portuguesa. Isto significa dizer que o caráter nacional se manifesta não só ao nível do conteúdo como também ao nível da forma.
Esta é uma atitude imprescindível se o que queremos é produzir um Design brasileiro matuto-caipira-caboclo-campeiro-sertanejo-citadino como quereria Mário de Andrade.
E o que caracteriza o estilo brasileiro?
O brasileiro tem uma forma de apreender a natureza altamente intuitiva, mais interessado nas características místicas dos bichos do que na sua exata anatomia.
O desenho brasileiro, com suas formas simples, ora geométricas, ora orgânicas e com suas proporções nada renascentistas alcança um grau de sofisticação e força expressiva que o coloca entre os mais belos do mundo.
Porém, é preciso estar atento ao fato de que este Design brasileiro não é único, e nem poderia ser, neste país de dimensões continentais. Mas ele surge necessariamente do encontro dos três ingredientes variando, é claro, as quantidades e os temperos regionais.
Isto aparece neste projeto através da separação das moedas em três grupos:
- O português está representado nas moedas de 0,01 e 0,25 centavos onde figuram, respectivamente, o Joãopinto (um pássaro azul, amarelo e branco) e o tatu canastra (maior tatu do mundo). No verso temos grafismos típicos portugueses baseados nas rendas e bordados e nas pinturas de cerâmicas e azulejos.
Pode-se dizer que o estilo dos desenhos populares portugueses é “de uma ingenuidade tocante, mas que não deve provocar críticas, ,pois o que nele sobreleva é a pura emoção do ser de mentalidade primária, mas sensível a uma concepção de beleza”. São formas simples preenchidas minuciosamente com texturas por um artesão dado a conversas interiores e um quê de melancolia.
- Os povos nativos estão representados nas moedas de 0,05 e 0,50 centavos onde figuram, respectivamente, a anta e o tamanduá. No verso, temos grafismos tirados de pinturas corporais e decorações de utensílios.
No estilo indígena, a percepção fundamental é o da geometrização infinita do espaço e a importância da relação figura-fundo.
“A expressão artística não se limita aos objetos sagrados que são venerados, mas também está presente em objetos da vida cotidiana, como uma advertência constante da impregnação do mundo espiritual na vida humana”.
- O negro está representado nas moedas de 0,10 e 1 Real onde figuram, respectivamente, o mico-leão dourado e o logo-guará. No verso temos grafismos que aparecem com freqüência nos utensílios, esculturas e tecidos africanos e que forma trazidos para cá nos navios negreiros.
Pelos grafismos podemos ver bem o gosto africano pela representação da tridimensionalidade dada pelo entrelaçamento de linhas. Nas estilizações dos animais aparece um estilo que aposta na força das linhas simples e das formas quase geométricas preenchidas por textura pouco complexas.
“Ser brasileiro, mesmo alvo e de cabelos loiros, é trazer na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro”, é ter uma tendência básica ao sincretismo cultural e à postura ecológica, porque aqui, antes disto ser moda, já era nossa história.
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